quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Palavras indigestas

Agora há pouco, em meu horário de almoço, rotina de quem leva marmita ao serviço por trabalhar em outra cidade: tira da geladeira, pega prato, talher, panela, lava, esquenta, põe no prato, come, lava tudo, seca, guarda, deixo local limpo. Nesse meio tempo, quatro mulheres começam a conversar sobre seus relacionamentos, só ouço, e sinto uma profunda tristeza nos diálogos. Chamarei de pessoas P1, P2, P3, P4.

__P1: "...eu não tô apaixonada, o cara chega e diz que me ama! Vem na minha casa e só quer ficar dormindo aqui!"
__P2 para P1: " Se já tá assim é melhor largar, eu já mandei o "meu" embora faz tempo. Nem tem 3 "mês" que você tá com ele, parte pra outra!"
__P1 responde: "Ah, já tava irritada e mandei ele ir embora, então por quê veio, né?!  Tá namorando tem hora que é chato, mas ficar sozinha também é ruim... não sei."
__P3: "Eu não dou moleza pro meu noivo não. Meu amigo diz que eu judio dele, e eu judio meeeesmo! Ontem, a gente ia sair, ele ficou enrolando, eu deitei na cama e disse "não vou mais não"... aí menina, ele começou a fazer massagem no meu pé." (risos)
__P1 para P3:"Se você continuar maltratando ele assim vai se dar mal."
__P3 para P1: "Vou nada, quando eu tô descansando em casa eu sei que ele tá lá "bonitinho deitado no sofá!"
__P2 para P3: "...você quem pensa (interrompida)"
__P3 para P2: " Que nada!! Aquele ali eu sei o que faz quando não tô perto, e qualquer coisa ligo pra mãe dele."
__P4 (a mais sensata delas): "tudo vai de conversar... você não pode aguentar qualquer coisa, mas tratar de qualquer jeito também não, é melhor largar."
 Terminei meu almoço, fui encher minha garrafa de água, e P4 veio atrás de mim tentando tirar a tristeza do meu olhar: "elas fazem isso porque não gostam deles, se você gosta de alguém, e essa pessoa te faz bem,  você não se preocupa nem com o bafo que essa pessoa tem. Dá muito ouvido pro que elas falam não."
Eu: "fica tranquila, sou bem observadora, sei como as coisas são, to vacinada." 

Reparando em conversas como estas, percebi pelas entrelinhas que, me parece (por favor sem protestos) que alguns homens gostam de serem maltratados, ou terem uma "dona", alguém que mexa nessa autoestima, que sinta prazer nisso, e ser "amado" e ser  pisado,  numa espécie de amor doente. Se é que é amor.
Saí pra escovar os dentes, triste claro, e pensando: "tenho tanto pra oferecer e..." nem terminei o pensamento, tenho psicanálise hoje, quero falar de coisas produtivas as quais tenho feito. Aliás, todas elas são mulheres bem resolvidas e bonitas. Não gosto de ficar tocando nesse assunto, mas não tem como não desabafar algo que me incomoda tanto: esse tipo de "preferência" masculina.
Uma coisa é certa, não me vejo fazendo isso, nem quero ter a oportunidade de fazer, não quero me descobrir bipersonal nessa hora. A solidão pra quem não teve a oportunidade de doar tudo o que tem de amor, ainda surge como o melhor dos remédios, gosto ruim... mas vivificante com o tempo. Vou continuar cuidando de mim, tenho sido retribuída, e sei que vou melhorar. A depressão não tem me tirado esse presente bom.

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