domingo, 17 de abril de 2011

Conto com

Sabe aquela sensação, bem triste, de que nem seus pais podem te compreender? Pois é. Uma das coisas que me deixa bem chateada em casa é o "já que nasceu, pague". Quem dera tivesse começado a trabalhar na idade certa, já estaria bem, bem longe daqui, no entanto, como a minha realidade foi totalmente diferente da minha "idealidade" - em muitas áreas da vida diga-se de passagem - só resta aprender a lidar com a situação. Claro, cultivar o social é uma tremenda obviedade pra alguém normal. E o que é ser normal? Ah, nem vou entrar em detalhes. Só sei que sou diferente, e nem é ruim.
Diferenciação. Quanta coisa. Pra alguns você faz a diferença, pra outros é INdiferente; poucos sabem te diferenciar, e a gente mesmo acaba se colocando nisso tudo. Alguns não se contentam quando você é "igual", e também não se contentam com a sua diferença,  são extremos que nós, pessoas julgadas, temos de entender pra viver da melhor maneira possível, pra nós. Viver, o que é isso? É o que me acontece todo dia? É aquilo que eu pretendo? É o que faço naquilo que pretendo? Ah, muitas perguntas, nem responderei.
Meus pais são pessoas "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço", é complicado alguém te aplicar sermão da bondade com um enorme tridente do lado. Deve ser papel deles, não sei. Amedronta o tipo de casamento que levam. A relação "quem ganha mais e quem TEM de fazer" é algo que não suporto. Todo dia a mesma coisa "ó, o dinheiro tá aí" ou seja, foda-se o resto, trouxe dinheiro, quero tudo do meu jeito. Não consigo lidar com algumas pressões, como TER de ajudar na compra, TER de ajudar nas contas, TER de ajudar na cozinha, TER de ser filha perfeita, TER de ser magra, TER de ganhar mais pra pagar INSS, TER de ganhar mais pra sustentar minha mãe, TER de ser do jeito que querem, precisar emprestar e TER de pagar o quanto antes senão acham que não receberão. Meu Deus, onde fica minha paz nisso? Que vida em família, não?! Uma sociedade por um fio. Engraçado e sinistro, ótimo tema pra seriados de TV que ironizam coisas tristes da vida das pessoas.
Há quase um ano, meus pais foram assaltados. Bendito dinheiro da venda da casa da minha vó (mãe da minha mãe), ou melhor, bendito pra alguns. Meu pai comprou um carro simples, que minha mãe acreditava piamente seria usado pra coisas importantes, como ir à feira, à igreja, fazer compras, será que só eu via o óbvio nisso tudo? Claro, meu pai, pega o carro, some, não busca minha mãe na igreja, reclama pra levá-la à feira, resmunga de ter de ir ao supermercado... é minha mãe não dirige, não tem pretensão alguma, e alguém neste momento deve estar perguntando, e você? Oras, não vou ser motorista de ninguém, já basta me tirarem a paz não dirigindo, imagina com mais esse "trunfo" nas mãos, nem quero tocar nesse carro da discórdia! Quando tiver o meu farei algo a respeito.
Agora ela está aqui reclamando porque ele não a buscou, e nem o celular está ligado, que coisa mais estafante uma rotina dessas. Não faço questão de andar naquele carro, amém. E ainda dizem que estão aqui pro que der e vier... uhum, sei. Por falar em sei, não sei confortar pessoas. Sou acusada quase todo dia de não ser uma amiga, oras mil perdões, mas até eu um dia queixei, e hoje sou esse sarcófago, cheio de situações bem conservadas pra horas oportunas, um caso em tratamento. Sarcasmo é bom nessas horas.
Minha existência em crise, a dos meus pais, tudo isso me dá uma canseira no fim do dia. Me cobro demais, é como se eu pudesse dar um jeito naquilo, ou indo embora, ou ganhando mais. Dinheiro não resolveria. Fico pensando aqui, minha mãe gosta da ideia de eu sair de casa "casada"... hum, eu adoooro a ideia de sair de casa pra morar "sozinha". Deve ter cisma do possível tipo de realidade que porventura eu viria a ter.
Não suporto acordar nos fins de semana e feriados, não só com o barulhos dos poodles dos vizinhos, mas também com as pequenas indiretas sonoras do meu pai: solta a cachorra na garagem, ela late, late, por volta das 8 da manhã, ele mexe nas coisas, abre e fecha a porta do carro, quando me vê levantar, é uma felicidade, ele para e vai pra rua. Penso eu, muito satisfeito pela proeza do dia.
Esse incômodo me estressa. Eu, O incômodo. Tá, tem mó cara de drama, mas é isso que sinto mesmo. Incomodo por não trazer uma boa quantia de dinheiro pra casa, incomodo por não ser trofeuzinho pras pessoas ( minha filha é isso, minha filha faz aquilo!), incomodo por não dar lugar no meu quarto no dia em que eles brigam, e eu fico tremendamente incomodada quando me jogam na cara as minhas fraquezas, as minhas deficiências sociais, parece que só sou feita disso, não tenho nenhuma qualidade, mas recebo muitos tapinhas nas costas quando dou dinheiro pra comprar coisas supérfluas. Bom, muito bom...
Eu me cobro demais com o que cobram de mim pelo que eles não conseguem fazer daquilo que cobram deles mesmos. É, é essa bagunça aí. Quem passa compreende. Todo mundo tem um pouco disso, vive um pouco disso. Contar com quem nessas horas? Contar com... igo.

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