“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não
dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como
um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se
pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta
dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se
consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se
recupera. Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem
relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma
pessoa substituta. E quem não é? A gente sempre acha que é especial na
vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo
pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça…ela
muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é
isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes,
até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você
espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece,
outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos,
ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu,
lhe dará. A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca –
levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por
saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu
coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar
muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os
outros, vieram ao mundo.”
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